7.4.09

A NOITE DE ONDE VÊM OS OVOS DA PÁSCOA

O dia em que deixei de acreditar nos coelhinhos que traziam e escondiam os ovos da Páscoa foi o mesmo em que deixei de acreditar no Pai Natal e também o mesmo em que percebi que não tínha nunca feito o pic-nic nas nuvens brancas com a avó no seu opel cor de céu com o tejadilho branco cor das nuvens. Era um carro enorme com os estofos claros. Anos mais tarde aprendi a conduzir nele, tinha três velocidades, a terceira chamava-se "prise". Ia de Gondarém a Caminha, sentado sobre uma almofada e com um chapéu enfiado para parecer mais velho. Dentro do carro havia sempre a luz das mais claras manhãs. No dia em que deixei de acreditar nos coelhos dos ovos da Páscoa estava numa varanda na Rua de São Bento, em Lisboa, chuviscava e eu permanecia lá, à espera deles, como me tinham dito para fazer. Esperei o dia todo até ao anoitecer. No fim percebi tudo de uma vez só. Teria cinco anos, a idade do meu filho Santiago. Depois disso por muitas vezes voltei a ser enganado (piedosamente ou não) e de cada engano ficou sempre o "alo", uma espécie de eco daquilo em que por instantes acreditei. Todos os mal entendidos deixam esse rasto, mesmo depois de serem esclarecidos. Na memória ficam como uma espécie de verdades desmentidas, o que não é suficiente para que deixem de existir nessa memória como verdades que foram.
Tudo isto vem a propósito da Páscoa e do último quadro que fiz e de que agora publico o trabalho em progresso, de novo fotografado pelo Henrique Calvet. Primeiro publicarei sequencialmente a evolução do quadro, no final os detalhes escolhidos pelo Henrique, a quem de novo agradeço, muito.

Sem comentários: