27.11.09

EM DEFESA DO JARDIM DO PRÍNCIPE REAL / 4º Dia


(pintura de m. nagashima, o pintor do Jardim do Príncipe Real, foi, com o Quiosque do Oliveira aqui retratado - no tempo em que ainda tinha árvores - um dos afectados pela "Requalificação" - Imagem daqui)


[resposta a um comentário da Analima]


Analima,


Mais uma vez agradeço-lhe os seus comentários, sobretudo porque constituem uma oportunidade para pensar. Desvirtuar o Jardim do Príncipe Real é por si só um dano suficiente para que se procure evitá-lo.


Não é necessário que existam interesses obscuros por trás do que está a ser feito para que a "causa" tenha sucesso.


A mais obscura das razões é a ignorância e o mau gosto juntos, as outras ferem menos, porque podem ser discutidas, rebatidas, etc.


Se reparar no que fui escrevendo nunca falei em interesses obscuros ou em parques de estacionamento subterrâneos (em que não acredito) ou em qualquer concluiu entre Câmara e interesses privados escondidos. Sinceramente não acredito que seja esse o caso e não precisava de ser para que a "defesa do jardim do príncipe real" fizesse sentido.


Estamos muitas vezes habituados a associar as "causas" com a administração pública (Câmaras, Governos), como causas "contra" estes ou aqueles interesses. Neste caso a "causa" não é contra mas a favor do interesse daqueles que julgam ser de preservar um dos jardins mais carismáticos de Lisboa, um dos jardins mais filmados, mais escritos e que no Sábado de manhã era um dos melhores lugares desta cidade para se estar. Ao Sábado de manhã, por causa do mercado que aí funcionava e do ambiente daquele jardim, com a sua decadência elegante que faz parte da sua natureza romântica, Lisboa atingia um pico (de felicidade, de bom viver, de fotogenia.


É pela sobrevivência desse lugar excepcional e não contra ninguém que me empenho. É pelo sítio em que habito, egoisticamente, se quiser, mas é a favor dele e não contra ninguém.

8 comentários:

Rosa disse...

Tiago, vou roubar o magashima para um post no blog da "Árvores de Portugal".

Defender o local onde se habita não é egoismo.

Tiago Taron disse...

ladrão que rouba a ladrão..., eu roubei ao lugar que indiquei o blogue "hoje há conquilhas...".
Entretanto o Magashima deve ser de todos os residentes do jardim o mais triste. Ele vivia entre aquelas árvores, pintando as casas, as pessoas, as esplanadas e os carros, sempre através delas, sempre com elas a aparecerem, como acontece na pintura que fez do Quiosque do Oliveira. Há muito que o respeito e já o convidei a pintar no meu atelier. O seu amor pelo Príncipe Real e o seu modo de ser simples e discreto levaram-no a agradecer e recusar com toda a delicadeza que têm as suas vénias. É um pintor fantástico e um profundo conhecedor daquele Jardim onde pintava todos os dias. Agora que o jardim está fechado renovarei o convite para que pinte onde pinto, sei que recusará.

Jorge Pinto disse...

Tiago,

Isto não é propriamente um comentário, mas como não encontro outra maneira de o contactar faço-o usando esta via.
Mas antes de mais deixe-me dar-lhe os meus parabéns pelo seu blogue que acho de extremo bom gosto e elegãncia.
E quanto ao Nagashima que inveja de não ter os quadros que reproduz. Tenho outros mas não tão belos como esses.
Agora o que me leva a contactá-lo é saber se não estará interessado em integrar a delegação que entregará em mão a petição que corre "online" ao presidente da CML, assim ele nos receba.
Caso sim, contacte-me por favor.

Obrigado,

Jorge Teixeira Pinto

Susana Neves disse...

Talvez muitas pessoas não saibam, não conheçam a boa companhia das árvores, a felicidade de se estar num espaço bonito, experimental à sua maneira, e por isso com aquele resíduo de liberdade que nos dá alento.
Quando se defende um Jardim Histórico como do Príncipe Real, romântico, apreciado por tantos poetas e artistas, numa das colinas mais bonitas de Lisboa, não se está realmente contra ninguém, como diz o Tiago, mas a favor da alegria, "la joie de vivre", a oportunidade de usufruir o que é bom e nos faz desejar estar vivos.
Existe actualmente um desejo doentio de uniformizar tudo porque no fundo os uniformizadores não suportam o que é espontâneo, como as árvores que crescem tortas, isso implica-lhes com os nervos, isso exige cuidados redobrados, impõem então a estética do óbvio, a ausência de referências, o ódio ao passado, o fim da identidade.

analima disse...

Boa noite, Tiago. Ainda bem que me explicou tão claramente a sua posição. Quero só esclarecer que quando utilizei a expressão interesses obscuros não pensei tanto em si mas no que fui lendo em alguns blogues que têm falado sobre o assunto. Continuo a achar que a CML não faria qualquer intervenção se não achasse que o resultado seria positivo. Mas também sei que se cometem erros e está nas mãos de quem pode protestar fazê-lo. Gostaria que soubesse que concordo consigo. Eu não resido na área do Príncipe Real mas, por trabalhar perto, frequento-o bastante. Por isso também o considero um pouco meu. Tenho a certeza que também eu já fui uma personagem nos quadros de m. nagashima e sei que as suas pinturas vão agora ficar mais pobres.

Tiago Taron disse...

Jorge,
O seu comentário cumpre uma espécie de sina deste blogue. O que mais aplauso suscita é o que não é meu, com uma agravante, parece que foi "postado" como se fosse. Não tenho nenhum quadro do enorme pintor que é m. nagashima (escrevo em minúsculas porque me parece sempre que a tradução dos nomes japoneses se deve fazer assim, não me pergunte porquê, mas tem a ver com o respeito e não com o contrário).
O meu blogue, como quase todos os blogues, é um depósito dos momentos em que chego a casa e procuro sistematizar ideias nesta variante à confissão de culpa e ao diário. Sinceramente não tenho muito orgulho nele e por isso a sua observação - como quase todas as outras - levo-a por conta da generosidade que deve ter. A mesma generosidade que o fez convidar-me para entregar a lista de assinaturas na Câmara. Aceito, claro que aceito e é uma honra. É fácil contactar-me, procuro ser transparente. O meu e-mail está no blogue mas eu repito-o aqui: tiago.taron@mail.telepac.pt.
Já agora - se me permite - acho que M. nagashima deveria estar entre os que vão entregar a petição, isto se ele concordar, como é claro. Posso procurá-lo neste fim-de-semana, no caso do Jorge achar que a minha sugestão faz sentido.
Mais uma vez obrigado e conte comigo para tudo o que achar útil nesta "causa" da defesa do jardim.

Tiago Taron disse...

Mariposa Roja,
Não pode imaginar a inveja que sinto de si. Como eu gostava de saber dizer o que sinto como você (desculpe-me mas não consegui escrever "como a Mariposa Roja" escreveu, porque pareceria uma fábula - vermelha - dos anos 70 - não se ofenda, mas o seu nome tem essa ressonância para mim).
Para além de invejar o que consegue dizer, invejo-lhe o pensar: o que diz sobre a razão de ser da normalização, dessa chegada da normalização também aos jardins, é capaz de ser verdade, faz todo o sentido. Nunca pensei na origem dessa necessidade de normalizar. No limite, se quisesse dar uma explicação, diria que a normalização é o território do sonhador que chega a burocrata e que tem medo de falhar: encontrado um modelo consensual pode executar, só isso, executar, sem precisar de envolver o sonho nisso.

Tiago Taron disse...

Analima,
Uma das coisas positivas do que aconteceu (e para sim há sempre nas alterações da realidade qualquer coisa de positivo) é esta descoberta (para mim) do muito que todos gostam do grande pintor que para mim é m. nagashima. Se no fim disto tudo os quadros dele, que retratam o que era o Jardim do Príncipe Real, forem procurados como a melhor memória do tempo em que esse jardim era o que era há uma semana, ficaria muito feliz.
No que diz respeito aos condomínios e ao condomínio da Quinta dos Inglesinhos se compreendo o que diz também tenho esperança que o tipo de habitantes daquele projecto fantástico, seja uma nova geração de condóninos, não fechados, mas abertos e que por essa razão foram capazes de dar uma pipa de massa por um apartamento no coração do bairro alto, a ver vamos. (declaração de interesses: se eu tivesse dinheiro comprava lá uma casa)