E um dia ele não riu mais.
Deixou de terminar as frases rindo delas.
Ria por causa do medo que tinha do que pudessem mudar nos outros, como se fossem fórmulas de um feitiço de que desconhecesse as consequências.
Passou a parar de falar antes de última sílaba, para não se esquecer de não se rir.
Passou a ver os outros rir das suas palavras a meio e ficou assim, a ter saudades suas através do riso dos outros.
Dos outros de quem já não tinha saudades, porque deixaram de existir quando perdeu o medo dos efeitos das suas frases neles.
Por isso deixou de rir no final de casa frase como desde pequenino o fazia,
já nem os olhos riam, ainda que marcados para sempre pela anterior pressão desse receio, traços que já não se comprimiam mas que estavam ali atestando as tantas vezes dessa cerimónia com que antes terminava as frases rindo
2 comentários:
Não consigo comentar mais do que deixar aqui o registo da minha presença. Li, gostei, é delicado, bonito. Fora isso ... apenas mais um número.
Um livro ... sem qquer dúvida.
Bjinho da amiga
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