12.6.10

QUERIDOS AMIGOS DOS ALMOÇOS PERFEITOS,



No outro dia almoçava com ela, conheço-a há dez anos e era a segunda vez que falávamos (a primeira há não mais de quinze dias). Os almoços não são só uma fórmula perfeita para os negócios, são um dos melhores lugares de comunicação que inventámos para estarmos com os outros e para os outros estarem connosco. Absolutos desconhecidos, ou não, primeiro almoço com eventual conquista, ou não, almoço frequente com amigo para sempre, ou não. Os almoços têm essa virtude das invenções que nos reinventam, ou das descobertas que nos mudam para sempre (ou só por momentos, no embalo do vinho e das substâncias que a felicidade do que nos vai sendo posto na mesa vai produzindo nos neurotransmissores).

Um almoço perfeito deve ter uma mesa quadrada, não o consigo imaginar numa mesa redonda.

Um almoço perfeito é a dois e os lugares de cada um podem ser todos os possíveis numa mesa, desde que quadrada (no que incluo as rectangulares), lado a lado, frente a frente, em ângulo recto. Um almoço perfeito tem de ter vinho e o intimo e recíproco “que se dane” o que há a fazer à tarde.

Deve ter luz, mesmo que chova e esteja cinzento, luz verdadeira, do dia que faça, ou bem simulada como se o dia fosse sempre claro, mesmo que chova, como acontece por exemplo no Papaçorda, à hora do almoço.

O excesso de serviço é um estorvo, há lugares que são por isso impraticáveis para almoçar, como o Tavares, ou o Eleven, lugares que podem muito bem servir para outra coisa - completamente diferente dos almoços - que são os jantares e que, ao contrário dos almoços, já não dão para tudo, ou – procurando ser mais rigoroso – para todos.

Um gajo para um almoço perfeito não pode ir com o apetite de pequeno-almoço e o cheiro a after-shave fresco, mesmo que seja Acqua di Parma (ou especialmente se for), como se acabássemos de entrar na sala de pequenos-almoços de um hotel onde dormimos, depois do banho à pressa porque são quase dez horas e depois aquilo fecha. Uma manhã de trabalho sem chatices, fluído (e a perspectiva de um almoço perfeito ajuda muito a esse sucesso) e com alguma indisfarçada alegria de sermos quem somos e fazermos bem o que fazemos, é a manhã ideal antes de um almoço perfeito.

Para um almoço perfeito vai-se a pé, parasitando a boleia do tempo em que se ia sempre almoçar a pé (Pessoa na Rua dos Douradores, Aquilino no Rossio, entre o Café Gelo e as Casas de Pasto que já não existem, ou que só existiram na minha imaginação, o meu avó da Rua de São Bento ao Grémio Literário). É esse o verdadeiro passeio higiénico, é o que se dá antes do almoço perfeito, e o passeio higiénico perfeito antes desse almoço é dado nos meses de Março, de preferência rente a um jardim (que não seja o novo jardim do Príncipe Real ou o ex-jardim de São Pedro de Alcântara, o que infelizmente me deixa sem jardins para ir rente, considerando os meus restaurantes dos almoços perfeitos), um jardim que tenha os aromas correspondentes ao único momento em que se suporta a palavra bonomia: é meia-hora (como se diz no Porto), e eu sou eu e vou almoçar bem e com o meu amigo / amiga e está tudo perfeito e porque é eu que nunca assobio estou a assobiar?

Tudo isto vem a propósito dos almoços perfeitos neste ano de 2010 e do que ela me disse no primeiro, citando Vinicius de Moraes: os amigos não se fazem reconhecem-se O último dos almoços perfeitos foi com os dois amigos que estão na fotografia que antecede isto e que confirmaram neste ano e ao longo do Projecto Graffiti a enorme da verdade da frase que ela me disse no nosso primeiro almoço perfeito.

Depois do almoço tirámos as fotografias que só poderiam existir depois de um almoço perfeito (neste caso almoçámos cinco o que tira qualquer sentido e/ou préstimo a tudo o que antes disse).

Queridos Amigos, querida Margarida, querido Tiago, querido Júlio, é muito bom almoçar convosco!

1 comentário:

ana disse...

delicioso Tiago, tudo, texto, projecto (que já fui espreitar ao FB)...até fico com inveja de vocês (brinco, brinco)