9.11.08

DOMINGOS

Early Sunday Mornig (Dennis Hope)


Mais um Domingo.


O meu tempo aqui conta-se em Domingos. Todos os outros dias da semana unem-se numa espécie de roda chilreante de jardim escola, mas o Domingo fica sempre, em relação aos outro dias, num lugar sombrio do recreio, geralmente de costas para o que se passa.


Hoje é um Domingo com sol. Os Domingos dividem-se em Domingos com e sem sol, os que são como o de hoje, apesar de menos pesados, são mais absurdos, porque o que raio é que faz o sol num domingo? Está mais na natureza dos Domingos a chuva, o cinzento sem neblina e sem graça dos dias puros de Inverno.


Com o sol que faz hoje posso acreditar que talvez me esqueça que é Domingo, se for de bicicleta à vila tomar o pequeno almoço a ouvir Sunday Morning dos Velvet Undergraund talvez me consiga esquecer mesmo que é Domingo.


Ontem aprendi uma coisa parecida. Que num incêndio uma das formas mais eficazes de combate ao fogo é fazer fogo contra o fogo. Acende-se uma frente de fogo a uns metros da que se quer combater, quando se juntam apagam-se mutuamente , diz quem viu e contou que é instantâneo, "quando se juntam puf, desaparecem ambos".


Talvez se fizer tudo à Domingo eu consiga eliminar o que há de Domingo neste dia. Ir à missa, simular um almoço de família, por a mesa, fazer um prato qualquer daqueles que podiam ser tradição comer ao Domingo em qualquer casa. Mas eu não sei cozinhar e aprender a fazer qualquer prato que pudesse ser tradição comer aos Domingos em qualquer casa, iria consumir-me o tempo de ir à missa, de ir de bicicleta tomar o pequeno-almoço no Águias, de telefonar à família (não que só telefone lhes telefone ao Domingo, falo com eles todos os dias, mas os telefonemas de Domingo, são diferentes, são telefonemas para a família em que até o facto de serem feitos através do telemóvel os torna estranhos. Na falta do telefone fixo, daqueles pretos de ferro, aos Domingos deveria passar a comunicar através do Skipe com câmara, como se tivesse num fim do mundo qualquer e combinasse uma hora no Domingo para "ligar à família", o telemóvel é coisa para os outros dias).


Aos Domingos fazer a barba é também mais estranho, há qualquer coisa na memória ancestral que me diz que esse era o dia em que se fazia a barba e se tomava banho de imersão e que explicará o facto de depois do banho tomado e da barba feita me sentir mais limpo depois de fazer o mesmo nos outros dias. Penso isso e ocorre-me que deverá ser essa memória ancestral, a mesma que explica a parte do Génesis onde se diz "que ao sétimo dia descansou". Alguma coisa deverá ter acontecido à humanidade num Domingo para que o dia tivesse para tanta gente esta carga, esta energia estranha que me faz reconhecer que já não há pachorra para esta conversa sobre os Domingos.


Bom Domingo.


Bom Domingo?, mas isso é uma contradição em si mesma, o que está correcto e faz sentido é desejar ao outro, "o melhor Domingo possível", como quando alguém vai ser operado ou ficar preso ou ter uma criança, não se diz: boa operação, ou boa estadia ou bom parto, diz-se que "corra tudo bem", "que não te seja pesado o tempo", "que seja uma hora pequena", respectivamente. É isso que se deveria dizer nos Domingos em vez de "bom domingo", que "te corra bem o Domingo", "que não te seja pesado o Domingo", "que seja uma hora pequena este Domingo", aleatoriamente. [Ouvir: Sunday Morning à
http://www.youtube.com/watch?v=0cWzxJvgWc8].



1 comentário:

ju e lu [e vice-versa] disse...

o grande infortúnio do Domingo é preceder a Segunda.

Jú Mancin