Sam Shepard

Leio o Público, cada vez mais reconciliado com as tarefas matinais e ainda sem que me comece a ser insuportável a sua repetição. No mês de Novembro costumo reparar na coluna dos "Fazem hoje anos". É o mês das pessoas abençoadas pelo melhor olhar e pela melhor personalidade do zoodiaco.

Agora a sério, não acredito em signos, mas acredito nos escorpiões. Aliás se não fossem os escorpiões eu nunca teria levado a sério quem quer que falasse de signos. No mês de Novembro todos os dias procuro os nomes de quem faz anos porque está lá revelado o segredo de eu gostar tanto deles.

Hoje, dia 5 de Novembro faz anos "Sam Shepard".Pôrra. Entre o está tudo explicado e o sentimento pequenino de inveja digo para mim: Como se não bastasse ter como mulher a Jessica Lange, ter escrito o Paris Texas, ter estado nas melhores companhias de sempre (Patti Smith; Bob Dylan, Ry Couder; Wim Wenders; Natasha Kinski), ainda por cima o filho da mãe é escorpião. Depois começo a pensar ao contrário, se calhar é ao contrário, se calhar o filho da mãe é isso e tudo o mais porque é escorpião. Penso nos meus amigos escorpiões (não é que sejam mais que os dos outros meses, eu é que só sei o signo desses) e dou comigo a pensar se teriam graça se não fossem escorpiões.

Lembro-me depois da história que os define e que toda a gente conhece, a história de uma tartaruga que ao seu ritmo foge de um incêndio numa das margens do rio. No seu caminho encontra um escorpião que ao ritmo da tartaruga a acompanha até à água, procurando convencê-la a deixá-lo ir na sua carapaça até à outra margem. A tartaruga olha em frente, segue o seu caminho e das primeiras vezes nem sequer responde. Perante a insistência a tartaruga lá lhe diz antes de entrar na água que nada do que ele (escorpião) pede faz sentido, porque ELE É UM ESCORPIÃO. E o que é que isso tem? - pergunta-lhe o escorpião. - Oh filho, se te levar tu mordes-me e eu morro com o teu veneno. Oh tartaruga amiga, mas não estás tu a ver que se te mordo morro afogado? Primeiro olhar da tartaruga para o escorpião, que a convenceu mesmo antes dela partir. - Sobe então, diz-lhe ela, com o mesmo vagar e ausência de mais razões. Nisto, a meio do lago a tartaruga sente uma picada no pescoço, incrédula para de nadar e exclama: "mas tu mordeste-me! Vais morrer também?". Pois vou, mas ser escorpião é mais forte que eu.

Apesar das más criticas gostei muito, muito mesmo, do último filme de Wim Wenders (Don't Come Knocking que aqui foi traduzido para "Estrela Solitária"). Vinte anos depois do Paris Texas, voltei a estar numa espécie de mesmo lugar e com as mesmas pessoas, só que vinte anos depois. A interpretação de Sam Shepard é, para mim, brilhante. É a parte boa do tempo que passa, que passa por nós, passa pelos sítios, passa pelos outros e parece fazê-lo de uma maneira que nos une. Bom, o que queria mesmo dizer é Parabéns a todos os escorpiões sem eles esta travessia seria muitíssimo mais desinteressante. Parabéns Catarina, Grande Nuno, Diogo, Guiomar, Vasco, Maria, Tio Paulo, undsoweiter.