6.11.08

Youtube he's watching you



Imponho-me uma hora limite para o que estou a fazer. Às oito da noite acabo esta pessegada. Às oito deixo de escrever a contestação em que estava a trabalhar. Marcar horas de termo às coisas dá o mesmo speed nos instantes finais que os próprios prazos dos tribunais. Tal como os últimos dias são os mais produtivos, também nos últimos minutos conseguem-se picos de rapidez e despacho que me fazem ter pena não me poder enganar e ir marcando e adiando sucessivos limites para me darem esses sucessivos kicks. Mas há limites para nos enganarmos, mesmo que seja para não nos enganarmos, como por exemplo o facto de uma coisa que procuramos pelos muitos bolsos que temos durante o Inverno (chegam a ser doze) estar sempre no último bolso, quando percebermos isso compreendemos também que não dá para começar a procurar pelo último. Chegam as oito horas, telefono-lhe, enquanto espero que atenda abro a página do YouTube. Há lá uma secção em que a página sugere vídeos de que podemos gostar em função dos que ouvimos antes. Clico no primeiro que de imediato não me diz nada e ouço isto (http://www.youtube.com/watch?v=8ThuXEDvCZk). Desligo o telefone sinto que a net está a ficar perigosa. Sinto-me de facto olhado. Ouço aquilo duas vezes. Uma coisa é sair para a rua e pensar que o céu, as cores do dia, replicam exactamente o nosso estado de espírito, outra é ter a página do Youtube a dizer-nos como nos sentimos. Pior, a música é fantástica, mas eu não devia gostar tanto dela, sei que só gosto dela agora, neste momento. Ligo-lhe e ela que não faz ideia da razão do atraso protesta com toda a razão, ponho o telefone encostado à coluna do pc para que ela possa ouvir e procuro explicar-lhe o que aconteceu. Diz-me que se ouve mal, que eu não estou bem, que é sempre a mesma coisa há cinco anos, que não tenho respeito pelas combinações. Pergunta-me se já sabe onde vamos jantar. Pode ser ao XL, para variar, apetece-me um bife com molho de fois. I can take my eyes of you, I can take my mind of you, vou a cantar-lhe ao telefone enquanto desço as escadas desde o sótão onde tinha o escritório. Quando as acabo de descer e digo "estou a sair", ela já lá não está. Desligou. Continuo a cantar enquanto vou para casa, que ficava no fim da rua. Isto aconteceu há para aí um ano e meio, mas só agora é que me chegou.




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