Ouvi esta frase (ou próxima, na verdade é: quem tem duas casas (amores) perde a razão, num dos filmes de Eric Rohmer e ficou. Lembro-me dela muitas vezes, não sei porquê, imagino que talvez seja por comprar muitas coisas aos pares, por exemplo maços de cigarros. Cada vez que compro um par de maços de cigarros lembro-me da frase e faço a uma revisão instantânea dos elementos alma / cabeça, para ver se os tenho no sítio [sim, chapéu, carteira, braguilha, que era a verificação diária que um certo médico republicano e maço fazia maquinalmente antes de sair de casa. Um dia a criada que o sabia ateu, não resistiu e pergunto: "Mas Sr. Dr. porque se benze sempre antes de sair de casa." Respondendo-lhe ele: "Só verifico se está tudo no sítio, Chapéu, carteira e cancela fechada."]
Esta coisa de ter mais dois blogs não faz muito sentido, vai daí, vou passar a transferir para este o que está quer no dos desenhos (albaatroz), quer no ainda pouco começado das citações latinas. Reduzir isto a uma casinha só a bem da sanidade, quanto aos amores é outra história, mas também estamos a arrumar a(s) casa(s) e podia escrever como nos estabelecimentos se faz, encerrado para remodelação.
O das citações latinas é basicamente uma brincadeira feita a partir de um excepcional dicionário de sentenças latinas que se chama Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas, compilado por Renzo Tozi e traduzido para brasileiro pela livraria Martins Fontes Editores. O processo é o seguinte, escolho uma frase, vejo a sua origem - com a preciosa ajuda do tal dicionário, e procuro na net onde foi sendo utilizada e em que contexto. A ideia não é propriamente nem nova, nem de rasgo, mas tem a ver com uma coisa em que acredito há muito tempo: nós não criamos nada, somos meros interpretes, onde nos distinguimos é na interpretação e não na suposta criação.
Esse blog (segredo de Fedor), que agora muda para aqui, só tinha quatro bacalhaus, às letras (o dos desenhos tem bacalhaus às cores) e abria com esta espécie de carta de intenções que era esta:
Num conto de Jorge Luís Borges - O Sonho de Coloridge, em Outras Inquirições - este descreve como o poeta Inglês escreveu uma das suas melhores páginas depois de ter tido um sonho, "num dos dias do Verão de 1797". O poeta sonhara com o palácio mandado construir por Kublai Khan na Pérsia, no Século XII. Vinte anos depois depois de Coloridge ter escrito o seu poema sobre o sonho do palácio de Kubla Khan foi editado em Paris um Compêndio de Histórias Persas, de Rashid-el-Din, primeira tradução do livro escrito no século XIV por um tal Rashid-el-Din, onde a certa altura se lê: "A leste de Shang-tu, Kubla Khan erigiu um palácio, segundo um plano que vira num sonho e que guardava na memória.". Partindo do princípio que era impossível a Coloridge ter alguma vez conhecido aquele texto na data em que escreveu o seu poema, temos o insólito de um palácio construído por causa de um sonho e o mesmo sonho sobre o palácio (entretanto desaparecido) que regressa seis cinco séculos depois ao sonho de um poeta Inglês. Este pequeno conto persegue-me. As ideias poderão afinal não ser infinitas e os artistas poderão, em consequência, não criar nada, mas simplesmente interpretar essas ideias não infinitas. Não haveria assim criação mas interpretação.
2 comentários:
Eu acabei de crescer com duas casas, dois quartos meus, duas cidades, duas pronúncias... sempre no meu perfeito juízo. Acho que foi altamente enriquecedor viver com um pé em cada uma conforme fosse tempo de aulas ou férias, pertencer em partes iguais a dois lugares tão diferentes...
si..somos UNO con el otro..UNO con todo..si queremos ser UNO con MAS DE UNO (UNA) ahi nos PERDEMOS, perdemos en esa búsqueda, en esa SENSACION de plenitud..SE-PARAMOS, DI-VIDIMOS..y el vació se hace lugar...y no encontramos esa OTRA PARTE..que no es más que ser UNO nuevamente con el OTRO..lo mismo con OTRA CASA..ese ES EL SECReto..TAN SIMPLE como eso..
Nos perdemos entre tantas palabras?hmm no creo.
Beijinhos
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