19.1.09

GOOGLE EARHT & TED TALKS

Jernomius Bosh (menino com brinquedo)




Vem-me à memória uma música de Chico Buarque, "Essa moça está diferente...", a propósito do que hoje encontrei na net, o Goggle Earth.

Há uns anos tinha visto pela primeira vez, em casa de um amigo, a localização de um ponto qualquer na terra através da progressiva ampliação de uma fotografia de satélite. Vi a minha casa, a rua, detectei as obras clandestinas no barraco do vizinho e creio ter reconhecido dois ou três dos carros estacionados em cima do passeio (um era o meu).
Há uns anos vi isso, achei graça e não reparei. Continuei a tarde a ouvir os últimos downloads das músicas de que gostávamos (foi nessa altura que ouvi pela primeira vez os Estopa) e continuei a utilizar a internet como até então o tinha feito (pesquisas no Goggle, ver os sites que estão nos favoritos, procurar informação, ou accionar os alertas sobre os assuntos que por alguma razão estava a seguir). Vejo agora que não fui capaz de ver o que felizmente outros viram de imediato, que podia estar ali um filão de possibilidades de comunicação da informação na internet.
Hoje, na visita a um dos blogs que sempre vejo ("blog de cheiros") vi este post que falava da wonderful wide web a propósito da recente colocação pelo Museu do Prado no Google Earth de catorze obras primas da história da pintura. A imagem escolhida era a do Jardim das Delícias de Jeronimus Bosh. Porque é um dos pintores que mais me diz (talvez porque desenhe), quis ir ver as tais imagens com uma "ultra-ultra" resolução. Foi então que se abriu a caverna.
Como no Ali Babá e os 40 ladrões, as enormes pedras que antes ocultavam as imensas possibilidades que já estavam naquelas fotografias de satélite que se podiam progressivamente ampliar, moveram-se e conheci então a pólvora que os outros souberam encontrar naquele processo do "macro para o micro", do universo para a terra, da terra para o continente, deste para um país, deste para uma cidade, desta para um museu, deste para um quadro, deste para um conjunto de figura, destas, para os detalhes das sombras e da composição por cores dos volumes, destes para o rasto da pincelada (intensidade, pressão, ritmo, aquelas tretas de que se fala para descrever como pinta cada um).
Para chegar lá tive de instalar a aplicação do Google Earth e iniciar-me numa espécie de nova lógica de pesquisa e selecção da informação. Uma nova lógica em que se fala de "camadas", em que as informações estão por camadas progresivamente ampliáveis, produzindo-se essa mesma informação em ficheiros que permitem essa ampliação progressiva que vai do geral ao detalhe mais infimo.

A certa altura da minha viagem pelo Jardim das Delicias tive de parar para perceber bem o que estava a ver, tive de esfregar os olhos, enconstar-me na cadeira e voltar a repetir os passos que me levaram ao Museu do Prado e às suas 14 obras primas. Ao fazer o persurso inverso comecei a procurar o ponto máximo da abrangência, o espaço, a terra vista do espaço, as estrelas. Depois reparei que em cada escala há ligações a conteúdos disponíveis na net, seja na Wikipédia, seja em conteúdos produzidos pela comunidade do Goggle Earth, seja pelos conteúdos que vão sendo seleccionados e organizados em cada camada e assimprogressivamente.
Para os meus filhos o meu espanto com o Google Earth é encarado da mesma forma que eu não percebia qual era a dificuldade dos mais velhos em uilizar uma máquina de calcular, ou entender os botões dos leitores de cassetes. Tenho esperança que para eles o conhecimento seja cada vez mais como o as camadas do Google Earth anunciam, o fazer perguntas e o gozo que se tem no caminho para as primeiras respostas e para as perguntas que nascem dessas primeiras respostas e assim sucessivamente. Tenho esperança que para eles seja claro o que para mim não era, que o conhecimento é uma questão de escala, ou seja, que só conhecemos uma parte do que chamamos mundo ou realidade, uma camada. Quer porque estamos limitados pelos sentidos (pelos ouvidos, que só ouvem numa deterinada frequência, pelos olhos, que também só veêm numa determinada frequência, etc.), quer porque estamos limitados pela nossa própria natureza felizmente imperfeita e finita. Não sei porquê mas a certa altura, a navegar pelo quadro do Jardim das Delícias tive o que pretensiosamente se poderia descrever como uma "experiencia religiosa", comovi-me com a humanidade que por instantes estava ali, perante mim, a seguir os vulcões, a seguir as imagens da terra vista do céu, a seguir o "spray" dos movimentos migratórios das aves e a seguir o mistério daquelas figuas de Jeronimus Bosh.
Estava ainda sob esse efeito quando outro acaso me levou a seleccionar no fantástico site do ted.talk (obrigado Salomé) a conferência mais "e-mailada". Começo a ouvir e quando termino vem-me à memória essa música do Chico Buarque, "essa moça está diferente".
A conferência (são 19 minutos - ver aqui), é brilhante, absolutamente brilhante e termina com uma afirmação que ainda não consegui unir à "revelação" do Google Earth, mas que sei ter tudo a ver. Sir Ken Robinsos diz, referindo-se a uma anterior conferência de Al Gore,para acrescentar à questão da ecologia no mundo, que a esperança no futuro passa por uma nova concepção sobre a "ecologia humana", que aposte na criatividade das crianças e que a partir dela repense o que o sistemapúblico de ensino em todo o mundo tem priviligiado. É simples e brilhante. No meio da conferência há uma história fantástica, em que uma miúda de sete anos está a desenhar e à pergunta da professora "o que é que estás a desenhar", ela responde: "estou a desenhar o retrato de Deus", a professora diz-lhe, mas niguém sabe como é Deus!. A miúda responde-lhe, "dentro de dois minutos já todos ficarão a saber."

1 comentário:

Rosa disse...

Quanto a revelações estamos quites, gostei muito de descobrir e ouvir o ken Robinson.