"Julieta não perguntou nada e foi." (da anterior Parte 6)
Julieta era ágil e ficava ainda mais sob aquele luar que só iluminava do caminho o que era preciso ver para o próximo passo. Como se a visão do caminho pudesse fugir ela avançava decidida para a zona iluminada, que regressava à penumbra imediatamente depois dela passar. Parecia que a lua a acompanhava como um foco, incluindo no ténue círculo da sua luz apenas algumas folhas das árvores e dos arbustos por onde ela progredia.
Desde miúda que Julieta estava acostumada a andar por aquelas veredas. Percorria-os sempre como se estivesse a fazer uma gincana e só muito tarde, já depois da sua amiga se ter tornado Rainha, perdeu o hábito de tirar os sapatos, deixá-los sobre o ramo do primeiro carvalho e seguir descalça para onde quer que fosse, fintando as plantas maiores, abaixando-se dos ramos que cruzavam o caminho, saltando sobre as partes mais acidentadas.
Por isso, quando chegou ao acampamento dos ciganos, a sua entrada provocou o alvoroço entre os cães que correram para ela a ladrar muito. Ela pôs-se de cóqueras e estendeu-lhes as mãos abertas enquanto lhes dizia: "Bonitos, bonitos, não passa nada, aqui, isso, bonitos". Enquanto o dizia foi-se levantando lentamente, sempre a festejá-los e recomeçou a andar, agora seguida por uma matilha de cães aos saltos, como se estivessem a acompanhar o regresso do dono.
Na mesma fogueira onde havia estado a mulher do jardineiro estava só a velha cigana. Julieta deu as Boas Noites e ia começar a falar quando a mulher lhe disse com um gesto suave, para não fazer barulho, no seu colo dormia um gato enorme, de cor azul que se confundia com as volumosas e sucessivas saias do seu regaço. Com o olhar a mulher apontou de seguida para duas vasilhas, erguendo o queixo na sua direcção. As vasilhas estavam junto a uma oliveira e reflectiam a luz da mesma maneira que há instantes fora reflectida pelas folhas do caminho à passagem de Julieta.
Com uma vasilha em cada mão, acompanhada pelos cães até à reentrada na floresta, Julieta regressou ao Palácio. (Continua)
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