"As vasilhas estavam junto a uma oliveira e reflectiam a luz da mesma maneira que há instantes fora reflectida pelas folhas do caminho à passagem de Julieta." (da anterior Parte 7)
Julieta entrou pela varanda com as duas bilhas em equilíbrio, a Rainha estava sentada na cama e continuava vaga, o olhar para lá da lua.
- Minha Rainha, que faço com elas?
-Prepara-me um banho, Julieta, se fazes o favor.
A água quente provinha de uma caldeira que estava constantemente ao lume. No chão de madeira junto à concha havia uma manivela com o cabo de cerâmica, protegida por uma cerca de porcelana da cor da concha, quase cor de salmão. Rodava-se essa manivela e o caldeirão que estava suspenso bem lá no alto, começava a inclinar-se, deixando a água entrar num enorme tubo de cobre que acabava na bocarra aberta de um dos peixes que para ali estava petrificado à espera desse único momento de animação na sua existência. Depois, quando a água já estava com a altura que deveria ter, rodava-se outra manivela, que ficava ao lado da primeira, também guardada por uma cerca de porcelana mais clara, quase azul. Uma ânfora transparente, inclinava-se então sobre um outro tubo, que era de vidro, por onde descia a água fria até à boca de outro peixe.
Quando Julieta terminou de encher a concha, despejou no banho o conteúdo das duas vasilhas que trazia, espalhou na água dois punhados das pétalas que se acumulavam num enorme baú de cristal, que também era um banco e onde costumava ficar sentada enquanto a sua Rainha tomava o banho. No fim de tudo isto verteu o conteúdo de um dos muitos frascos de várias cores com óleos de essência de amêndoas doces e baunilha.
Na curva do cano de cobre por onde tinha passado a água quente, pousou abertos dois enorme lençóis turcos, onde estava bordado o monograma da Rainha, a verde seco a letra "A" - a primeira letra do seu nome - rodeada por muitos pássaros que a seguravam como se a transportassem em voo.
O banho estava pronto, a Rainha tomou-o e permaneceu em silêncio, o que não era habitual, pois era um dos momentos do dia em que gostava de ouvir Julieta a falar da pequenina Luz, a sua irmã mais nova com quem a Rainha gostava de passear de manhã pela horta e explicar-lhe o que é que estava em cada um dos canteiros. (Continua)
2 comentários:
Espero que o banho faça o efeito desejado...
sim e vai ser mesmo o banho, variante da visitação do espírito santo na cultura cigana.
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