É hoje, alea jacta est e tanta jactância, como controlá-la? Estou aqui há vários dias, neste Sábado que agora começa, à espera que os outros cheguem a ele. Deambulei durante toda a semana pelos quarteirões adjacentes ao dia de hoje, como se o guardasse, para que não escape, para que não acorde, para que não adormeça, para que o tempo não pare e siga como sempre, linear, até hoje, que chegou e está a amanhecer, e vai ser o mesmo Sábado, o meu e de todos.
Dobrar a vida. Tenho a frase. Ressoa bem, soa a viver a dobrar, a dobrar os medos, a dobrar a aposta. Queria ser poeta agora para que o que sinto neste amanhecer ficasse numa imagem como só a poesia consegue, nem os desenhos, nem a pintura geram imagens como os melhores poemas. Não sei escrever poesia - como a Elis não sabia rezar - fico-me com a expressão "Dobrar a Vida" que tem uma imagem nebulosa associada, onde está uma onda, a crista de uma onda desenhada à japonesa e eu algures no meio dela, sem resistir ao embalo da sensação semelhante à lomba repentina da estrada, à antecipação da queda súbita da proa do barco, ao arrepio da velocidade do salto da prancha alta que havia na piscina do Estoril Sol, mesmo antes de chegar à água.
É hoje, alea jacta esta e eu, enquanto amanhece, sinto-me na crista da onda do cabo da vida que estou a dobrar. Hoje dobro a vida.
2 comentários:
La estarei na grande esposição
Os homens dessas caravelas dobraram cabos, medos, tempestades, mares e novas vidas também.
E tiveram sucesso nesse dobrar, como o seu também vai ter.
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