6.2.09

A FELICIDADE DOS OUTROS

Regresso ao Isaías. A vantagem do Isaías é que muitas vezes não podemos deixar de ouvir,porque ficamos na mesma mesa. Almoçar sozinho podia ser uma espécie de hobbie. Assim como há quem coleccione borboletas, ou selos, coleccionar as frases perdidas que se apanham deveria ter um nome. Cusquicioneiro,não gosto,mas é o mais próximo. Hoje apanhei esta:

"Um homen para ser feliz
tem de ser dono do seu nariz
dar-se bem com a canalha
andar sempre de navalha
e ter tento no que diz(*)"

(*) na versão original - a cuscada - está "saber o que diz". Ao reescrever a quadra,com a ajuda do vizinho da mesa que, nunca fiando, olhava de lado enquanto eu escrevia o que tinha apanhado de ouvido, escrevi: "ter cuidado com o que diz." - Eh amigo, nã eh ter cuidado, bote lá como é: "saber o que diz", concordei - como na música dos Xutos - à minha maneira, e escevi "ter tento".
Agora que releio a frase e me lembro do olhar do vizinho da mesa, descubro numa e noutro uma origem que me faz hesitar no gostar dela: parece saída da cartilha oficiosa de qualquer estabelecimento prisional. Depois ia começar a divagar sobre a propriedade transitiva deste tipo de frases que se adapta a tudo, e que há quem viva a vida como se isto fosse a repetição de uma guerra ou de uma prisão, que se calhar o stress prós traumático dos antigos combatentes pode existir pelo simples facto de estar vivo e de se ser homem. mas lembrei-me que tenho mesmo de ir pintar, porque tenho três quadros para acabar até ao dia 21.

4 comentários:

Patti disse...

Ah também é desses, de bloco de notas em guarda?

Será que se pode chamar um fraseoso?

No meu caso, tem a ver com a esperança de aprender mais, junto daqueles que erradamente a maioria supõe saberem pouco.

Boas pinturas.

Tiago Taron disse...

Eu vou coleccionando histórias, de que depois me esqueço, quando anoto uma frase perdidaé mais fácil rebobinar tudo outra vez (o ambiente as pessoas e como estava eu então).Na página anterior estava anotada uma frase que ouvi há um tempo, dita por uns homens que estavam a cantar ao desafio. Estava a desenhar, ouvi a frase e levantei-me para lhe pedir para trocar o desenho pelo direito de transcrever o que acabara de ouvir. O homem recebeu o desenho, que agradeceu e depois disse: "Sei que pareço um ladrão, mas sei também que há muitos que não parecendo aquilo que são, são aquilo que eu pareço. Eu escrevi, feliz. Quando fechei o bloco o mesmo homem disse, escreva lá no seu livrinho, por baixo, António Aleixo.

Patti disse...

António Aleixo? Que espectáculo.
Coincidência, já se vê.

Bom, agora tenho de ir escrever.

ju e lu [e vice-versa] disse...

Eu coleciono histórias mal resolvidas.
E resolvo pela sua mais nova aquisição que dou me bem com o canalha, mesmo quando ele me deixa sem saber se tenho tento no que digo.

Lindo post! Leve como o verão do lado de cá, apesar das tempestades.

Lu Minami