25.4.09

As músicas do 25 de Abril (Camarada D. Funes! obrigado por mais um tema)


Mùsica 1 (Largo do Camões)

Montaram um ecrã gigante no Largo do Camões, é acompanhado no seu enorme tamanho por uma aparelhagem de som potente que só debita uma música "E agora o povo unido nunca mais será vencido, nunca mais será vencido", e outra vez "E agora o povo unido nunca mais será vencido, nunca mais será vencido" e muitas outras vezes, até porque a música não tem refrão, ou é só esse refrão (não sei como é que se diz nesses casos). No ecrã convidam-se as pessoas a mandarem por SMS para o número não sei quantos as suas mensagens, elas aparecerão à vista de todos. Aparece então a seguinte mensagem: "Vivo aqui, no Camões, será que vou ter de ficar a mesma música toda a noite?", imediata e repentisticamente aparece a resposta, também por SMS: "Muda-te para Chelas!".

Música 2 (Assembleia de República)

Marques Júnior leva dois minutos, com a voz embargada de emoção a dizer mais ou menos isto no final do seu discurso: Ainda hoje recebi uma mensagem … (longa pausa de emoção, voz embargada vai conseguindo dizer uma palavra de cada vez, "…" doravante significa uma pausa assim), um casal, …, …, jovem, … … …, casal jovem, … man… man… mandou, … a mensagem …, …, nasceu … o Zeca … o Zeca Afonsol … venham mais cinco. Ouço isto na rádio, ouço os aplausos, ouço que estão de pé deputados do PS, do PSD e do CDS. Começo a cantar "venham mais cinco de uma assentada que eu pago já", "só nesta rusga não há lugar para os filhos da mãe", "não me obriguem a vir para a rua gritar", que é já tempo embalar a trouxa e zarpar.

Música 3 (Largo do Carmo)

São nove da manhã, depois de tomar o pequeno almoço na brasileira os passos levam-me ao Largo do Carmo, às ruínas do Carmo que continuam com a mesma indiferença ao tempo que passa que já tinham há trinta e cinco anos. Sempre que ali passo olhos para as árvores e pergunto-me se serão as mesmas onde estavam empoleiradas todas aquelas pessoas, lembro-me sempre da imagem de Francisco Sousa Tavares empoleirado na sua. Tenho no I-Pod os Dead Can Dance a tocar, por trás deles ouço: "Força, força camarada Vasco, nós seremos a muralha de aço." Ouço isto e reparo num soldado muito pequeno plantado no meio de um canteiro improvisado ali no Largo do Carmo. Espero que se mexa, não se mexe, é claro que não se mexe, é de cera. O primeiro (e eventualmente último poema que escrevi, era: "o gato é de louça, não mia, foi Deus que se enganou). Salgueiro Maia não se mexe, foi Deus que se enganou repito para mim. Sento-me numa das cadeiras do Largo do Carmo e desenho isto:

Mùsica 4

Mas a minha preferida é mesmo a do Chico Buarque, Tanto Mar ("Foi bonita a festa pá, cá estou carente, mande novamente algum cheirinho de alecrim, sei que léguas vão nos separar, tanto mar, tanto mar ..."). Ver aqui.

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