7.11.09

GRIPE A, Porquê Eu, Porque Não Eu?






Na passada Quarta Feira enfiaram-me uns cotonetes pelo nariz e fizeram lá no fundo da língua o mesmo. É uma análise que tem um nome sugestivo, herdado do tempo em que não se punham paninhos quentes nas palavras: zaragatoa. Não custa nada, a única coisa que custa mesmo é a infinidade de torturas que podemos imaginar entre o momento em que nos informam que vamos fazer uma zaragatoa e o momento em que nos fazem a zaragatoa (...e pagar).

Como não se fazem análises à Gripe A nos Hospitais vou a um Laboratório, tal como na Segunda Feira foi o meu filho mais novo que tem seis anos, a que sucedeu o primeiro resultado positivo na família e que desencadeou a corrida às análises dos restantes quatro irmãos, do pai e da mãe, da avó, tios primos e visitas da casa, que apesar de não existirem gosto de invocar como se existissem, pelo que soa a boa e velha burguesia rural.

Decido narrar estes factos apesar da repulsa que tenho pelos assuntos das doenças, sobretudo quando a partir de certa idade se tornam tema dominante das conversas, perdendo-se o pudor e o decoro como aos seis ou sete se perdem os dentes de leite. [Um amigo Espanhol falava-me da expressão dar uma "pancada", por eles usada para significar o conselho gratuito que se pedia ao advogado ou ao médico. A propósito da pancada (palavra que voltava a dizer a cada vez que me ligava para pedir um conselho ou fazer uma pergunta relacionada com o meu trabalho) contava-me uma pequena história, aparentemente para me pôr à vontade para o mandar à fava, na verdade impedindo-me de o fazer, sob pena de o tratar como uma das personagens dessa história que era a seguinte: Num jantar uma senhora fica ao lado de um médico. A meio do jantar a senhora começa a falar das hemorroidas do marido, que a ouve cabisbaixo. A certa altura o médico interrompe-a e pergunta-lhe se quer mesmo que ele a ajude quanto a isso. Ela responde que sim, ao que o médico lhe diz, então peça ao Senhor seu marido para nos mostrar isso. Agora? Sim agora. Aqui? Sim aqui. A conversa acaba ali.].

Os factos resumem-se ao seguinte:

Na passada Terça Feira fiz a tal da análise. No dia a seguir telefonaram-me do laboratório e antes mesmo de dizerem o resultado perguntaram-me como me sentia, como era o meu estado clínico. Percebi o resultado e atalhei a conversa perguntando desnecessariamente à Senhora preocupada: - quer dizer que então é positivo o resultado? Disse que sim. - O seu e o da sua mulher. Atalhei ainda mais a conversa. - Boa tarde, obrigado. Desliguei o telefone e pensei, vou para casa, esperar, vou esperar em casa, vou esperar sentado.

No trajecto vou à farmácia e compro o Tamiflu com a receita que trazia de prevenção por causa dos três maços por dia, de seguida compro um pacote de Gauloises, duas garrafas de vinho branco, umas entradas daquelas típicas de quem não cozinha mas gosta de ter uma mesa apetitosa, nem que seja no braço do sofá. Chego a casa e começo então a espera, preparo-me para o eu que não imagino mas em que me transfiguro com a febre, como aquele que há um ano erscreveu aqui isto.

Hoje é Segunda, passaram seis dias desde a análise e, em princípio, dez desde que o bicho entrou. Apesar de algum descoforto e atordoamento nada de especial se passou, não cheguei a ter febre, as dores no peito foram mais psicosomáticas do que dores e o "estado de desorientação", como lhe chamaram na linha da gripe, é apenas uma variante do meu estado habitual.

Conto isto tudo porque estou convencido (o convencimento da fé) que o tal Tamiflu - tomado imediatamente após o resultado da análise de forma a que actue nos primeiros dias de disseminação do vírus - terá sido a explicação para os dias benignos e quase felizes (não fora a expectativa de um mal maior à espreita) que levo em casa.

Conto isto para dizer o mesmo que procurei hoje perceber se era do conhecimento da tal linha da gripe. Perguntei à eficiente Enfermeira que me atendeu se estavam a registar a informação que cada pessoa lhes dava sobre o seu caso concreto (tempo de incubação, data da análise e primeiros sintomas, reacções ao Tamiflu, febre ou não febre, casos de ausência de febre, etc.). Perguntava isto porque estava convencido que essas linhas funcionan quer para informar quem liga, quer para informar quem atende do que se está a passar, em tempo real, habilitando quem esteja a tratar do assunto da informação essencial para lidar com ele.

Percebi que não. A única coisa que fica registado são os nossos dados pessoais, o nome a morada e o telefone, o resto é "palha", ou seja, o que eu digo sobre o meu caso, o que eu conto sobre as análises que fiz na Terça e o Tamiflu que tomei na Quarta, o que relato sobre a ausência (até ao momento) de febre ou qualque outra moléstia mais grave típica das gripes, atribuindo o sucesso ao tal do Tamiflu, tudo isso é ouvido como se fosse conversa a mais e desnecessária, jáque se não tenho nada de procupante estou a embaraçar a linha. Desligo.

Volto ao meu casulo em que tornei a casa omnde "no pasa nada" a não ser os filmes da TV Cine, o homem ds Pizzas ou do "No Menu", e nós como na música do Sérgi Godinho, à espera do ocombio na paragem do autocarro.

Passaram-se cinco dias desde a análise e, muito provavelmente onze dias desde o contágio. Segundo dizem o período de incubação (e também aí não parece existir consenso que permita uma informação objectiva) é de cinco dias. Também segundo dizem o período de doença é de quatro a sete dias. Até agora nada de especial, apesar dos tais três maços por dia (agora reduzidos drástica mas não totalmente a meio maço, para que o organismo não se ofenda com a hipocrisia).

Uma coisa parece-me evidente: as análises deviam ser feitas em qualquer hospital nos casos de risco, ou seja nos mesmos casos em que a vacinação está programadas ou aconselhada. Se a eficácia do Tamiflu é a que dizem (e a que parece ter tido no meu caso) e se essa mesma eficácia depende da circunstância de ser tomado logos nos dois primeiros dias do início da actividade do vírus, então parece elementar que essa análise seja proporcionada a quem se diz que lá mais para a frente terá de ser vacinado. Para terminar. O preço das análises varia entre os 40 Euros e os 100 Euros e parece que não são comparticipadas. Não percebo isto. Sinceramente não percebo.

3 comentários:

Rosa disse...

Uma gripe A dessas, quase que apetece. As melhoras Tiago.

Tiago Taron disse...

Obrigado Rosa.

_rutHe_ disse...

Eu tive direito a zaragatoa, porque tenho uns quantos bichinhos crónicos.
Agora estou em casa à espera do resultado e de vez em quando brindo com Tamiflu!
Impressionante ter de ir ao laboratório particular para saber o que se tem, se bem que a médica que me atendeu no posto da gripe ontem brilhou com a seguinte frase: "Se estiver com gripe só pode ser A, nesta altura não há outra!"

Cumprimentos