27.5.09

Condeixa (1)

Sinto que devo começar a escrever imediatamente.
Colocar as pessoas na paisagem que já vejo e que pouco me importa se existe. São lugares que estão vazios apenas porque ainda não comecei a povoá-los e começam a ficar soturnos nessa ausência.
O primeiro deles fica perto de Condeixa.
Nunca o visitei e não consigo deixar de o ver. Acontece-me sempre isto, não saber pensar sem imagens e não conseguir respeitar o que não conheço e ter uma imagem com a nitidez correspoondente ao grau de conhecimento. Não.
A imagem é sempre nitida, o que acontece é que se altera à medida que o imaginado vai-se permutando pelo real, sem ruído, sem sobressalto, nem sequer o constrangimento do engano.
Esse primeiro lugar em Condeixa é um campo antigo. Um campo antigo com as côres das coisas que estão há muito tempo sem ser olhadas, umas cores esbatidas, mas sem nevoeiro, baças, mas sem qualquer penumbra.
A luz do lugar é bastante clara, as coisas é que não o são, mas estão lá todas.
A paisagem que eu vejo sofreu o que um quadro que a representasse naquele tempo (em 1860), teria sofrido se tivesse ficado exposto ao sol durante esse Verão, sobre uma ponte romana que lá há e que imagino estreita e arqueada sob um riacho, quase seco e absolutamente estático.

2 comentários:

Patti disse...

"Nunca o visitei e não consigo deixar de o ver". Então é porque de certeza existe!

Tiago Taron disse...

Claro que existe e mais do que eu, porque existe antes de mim e continuará a existir depois. Acredito mais nas memórias que passam através dos genes que nas próprias, essas ainda não estão trabalhadas, têm demasiado verbo e razão. É com as primeiras que procuro escrever a história que comecei, com elas e com o Google, nessa combinação que me parece medieval (e não me pergunte porquê).