Estou sentado à espera do almoço.
Um sujeito [e que raio de palavra para descrever um sem rosto de barriga e óculos] entra.
O "garçon" que é mais um ganso que descobriu a graça de ser ambas as coisas ao mesmo tempo - pergunta-lhe:
- Sozinho?
"Sozinho" era a condição do Pessoa visto pelos seus coincidentes, contemporâneos. Ele, ou o
Bernardo Soares devem ter ouvido aquela pergunta muitas vezes: Sozinho?
"Sozinho" não é diminutivo de só, não tem também a mariquice dos outros diminutivos, pelo contrário, é uma constatação do carácter excepcional de uma solidão pontual. "Ele não está só, está sozinho." O empregado do 1º de Maio - que se chama Miguel e parece um ganso bem-disposto - sabe isso e faz a cortesia de dar ao cliente o caminho para lidar com a sua solidão, o caminho mais favorável, enquanto o conduz à mesa.
Estou sozinho. O sujeito saboreia a provisoriedade dessa solidão de que não se sente capaz e pede um prato animado e um vinho frequentado e um lugar pouco iluminado.
1 comentário:
Estás lá! :)
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