14.2.21

A Incrivel História de Santa Tecla

 
 
 Santa Tecla, Ou Trega, é o Monte que nos protege em Caminha e que com a Insua (a que esteve em tempos ligado) completa este triângulo único de intensidade e beleza. Caminha para mim é o lugar mais poderoso de todos quantos conheci, esse poder - para mim - tem três vértices: O Monte de Santa Tecla, a Insua e a Igreja Matriz.

Durante algum tempo procurei saber o que se sabia sobre a origem do nome do Monte. Mesmo em La Guardia ou na povoação de Camposancos, que está no sopé virado a Caminha, nada de muito preciso me foi dito. Pesquisei então quem era Santa Tecla. O que encontrei foi para mim surpreendente e motivou a elaboração de um painel que lhe dediquei. A Santa Tecla e à sua história. Entretanto procurei uma tradução em Português da história desta Santa, tornada equivalente aos Apóstolos pelo Vaticano e que está contada naquelçe que para muitos terá sido o primeiro romance (enquanto género literário) da história da humanidade: "Actos de Paulo e Tecla", escrito no segundo século da era cristã e que ainda hoje constitui um evegelho para a igreja Ortodoxa, que celebra o seu dia a 24 de Setembro, enquanto nós o celebramos, naquele Monte, a dia 23 (que é também o dia de santo de Santa Tecla para a igreja católica).

Não existindo dúvidas sobre a que Santa Tecla está votado o Monte, poder-se-ia perguntar sobre a origem desse culto (nomeadamente da ermida que se refere ter existido no Monte e da própria ermida que se diz ter existido na Insua, muito antes da construção do mosteiro). Também aqui as respostas são nebulosas. Ignoro também qual a origem do fortíssimo culto que tem Santa Tecla em Tarragona. Como hipótese absurda de raciocínio cheguei a imaginar que poderia afinal São Paulo (por quem Tecla se apaixona na história) pudesse ter estado, por si ou representado por Tecla, na Hispania Romana, destino confessado para a sua última pregação, provavelmente frustrado com a sua execução em Roma, provavelmente no ano de 57. Uma das vias Romanas descrita por Antonino, conhecida por "Per Loca Maritima", teria sido um dos possíveis acessos a este extremo ocidental, a própria cultura dos castros, na sua forma de vida frugal e durante séculos rebelde à anexaação romana, poderia - também aqui - ter protegido os então vistos como "terroristas", os primitivos cristãos que, como na história de Tecla, eram então considerados como um perigo para o pilar fundamental da sociedade do "bonus pater familiae". São Paulo, ao defender o celibato das virgens, atentava contra a família e privava os homens de então daquelas que como Tecla seguiam a sua incendiária palavra. Os primitivos cristãos viveram como hermitas, muitas vezes protegidos por essas populações, numa espécie de recíproca entre-ajuda, ora no plano espiritual/mágico, ora no plano terreno. Seria uma hipótese do domínio do absurdo, mas à falta de dados sobre a origem do culto, não deixa de ser tentadora, até pela sua súbita actualidade: revelando uma das mulheres mais enigmaticamente esquecidas na história da igreja.

Segue-se o que fui traduzindo das duas traduções que encontrei dos textos mais antigos desses Actos de Paulo e Tecla (textos esses traduzidos, o primeiro, do arabe para inglês, o segundo do grego para francês. Procurei na tradução manter o mais possível o sentido das palavras e das frases, o que às vezes obrigou a ligerias "actualizações", de forma a procurar manter vivas as impressionantes imagens que vão surgindo.

 

ACTOS DE PAULO E TECLA

Depois de fugir de Antioquia e da batalha que nessa cidade teve lugar, Paulo subiu em direcção à cidade de Icônio.
Juntaram-se-lhe na viagem os seus discípulos Demas e Hermógenes, o ferreiro. Hipócritas, simulando verdadeiro interesse, interpelavam durante as suas orações. Paulo, cheio de bondade, nada fez contra eles, antes procurou responder-lhes com doçura e assim iniciá-los na palavra de Cristo.

Em Icónio vivia um homem chamado Onesiphorus. Quando soube da iminente chegada de Paulo, foi procurá-lo , com os seus filhos Símias e Zenon juntamente com a sua mulher Léctra, de maneira a oferecer-lhe hospitalidade.

Titus tinha descrito a Onesiphorus o aspecto de São Paulo, já que este jamais o tinha visto.

Caminhou então Onesiphorus ao longo da Estrada Real em direcção a Lystra, procurando quem se assemelhasse a Paulo, observando todos os que passavam e pudessem corresponder à descrição dada por Titus.
Finalmente viu Paulo aproximar-se: um homem baixo, calvo, de pernas sofridas, arqueadas, com uma testa alta, sobrancelhas unidas, nariz aquilino, olhos grandes, todo ele cheio de graça e luz: umas vezes tinha a expressão dos humanos, outras o seu rosto
irradiava a luz dos anjos.


Convidou-o então Onesiphorus a ficar em sua casa. 

 Démas - que , com Hermógenes, ouvira o convite feito a Paulo e que a ambos provocara íntimo ciúme – exclamou:

- “Sendo nós igualmente servos do Abençoado, porque razão não nos convidaste também?”.

Onesiphorus respondeu dirigindo-se a ambos:

- “Não vejo em voz nenhuma qualidade, se porém alguma qualidade ou fruto tiverem, então venham também para minha casa e descansem.

Foram então todos para a casa de Onesiphorus, onde reinava um ambiente de festa e alegria, rezando-se e partindo-se o pão. Começou então Paulo a sua prédica, transmitindo aos presentes a palavra de Deus sobre a pureza (castidade) e ressurreição, dizendo-lhes:

- “Abençoados são os puros de coração, porque serão herdeiros de Deus.
Abençoados são os que renunciaram a este mundo, porque serão herdeiros de Deus. Abençoados são todos aqueles que tendo mulher vivem como se não a tivessem, porque herdarão a Terra.
Abençoados são os que temem a Deus, porque são iguais aos anjos.

Quando Paulo viu Onesiphorus, sorriu e exclamou alegremente: - “A paz esteja contigo e com os teus filhos.”.


Abençoados são aqueles que temem a Deus, porque eles serão purificados. Abençoados são aqueles que adoptaram para si mesmos o timbre de Jesus Cristo, porque serão chamados filhos de Deus.
Abençoados são os baptizados, porque descansarão nas mãos do Pai do Filho e do Espírito Santo.

Abençoados são aqueles que interiorizaram o ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque eles serão como anjos e sentar-se-ão à direita de Deus.
Abençoados são os misericordiosos, porque receberão misericórdia e não assistirão ao doloroso julgamento final.

Abençoados sejam os corpos das virgens, porque agradarão a Deus e a sua pureza não será destruída. A Palavra de Deus habitá-los-à e serão salvos no dia da aparição do Filho, descansando para toda a eternidade, ámen.”.

Enquanto Paulo pregava assim a palavra de Deus, no meio da assembleia formada na casa de Onesiphorus, uma rapariga, uma virgem chamada Tecla – noiva de um homem chamado Tamíris – ouvia-o sentada numa das arcadas da sua casa que ficava ao lado da casa de Onesiphorus.

Quando Tecla se sentou na arcada e começou a ouvir Paulo a falar sobre a pureza e a oração, o seu coração passou a gravitar naquela espiritualidade, a sua alma passou a ânsiar por Deus e o seu coração sentia tal prazer com as palavras de Paulo que permaneceu sentada naquela arcada durante três noites, escutando-o.

Em momento algum saíu do lugar onde se encontrava, sequer para comer ou beber. Esqueceu-se de tudo, como se tivesse adormecido, tal a intensidade do desejo de Deus que então começou a sentir.

Durante esse tempo Tecla viu muitas mulheres e até virgens, dirigirem-se a casa de Onisephorus, para ouvir Paulo, passando a sentir ansiosamente o desejo de ouvi-lo na sua presença, já que não tinha visto ainda o rosto de Paulo mas apenas ouvido o som da sua voz.

Quando a sua mãe Theocleia a viu assim, mandou chamar o noivo de Tecla, Tamíris. 

Tamíris chegou, feliz da vida. Estranhando não encontrar Tecla perguntou a Theocleia:

- “Onde está Tecla, minha futura mulher, que não a encontro?”

Respondeu-lhe Theocleia:

- “Desde há três dias e três noites que Tecla tem estado sentada nas arcadas, sem comer e sem beber o que quer que seja e sem que se lhe tenha ouvido uma só palavra. Está como bêbada de alegria, com o seu coração suspenso nas palavras de um homem estranho que na casa de Onisephorus está a ensinar às pessoas palavras enganosas e artificiosas.

Ela está de tal forma presa àquele homem estrangeiro, que estou surpreendida que o grande pudor de uma rapariga possa ser abalado de tal forma que dá pena.

Este homem seduziu a tua mulher Tecla e todas as mulheres da cidade.
Elas vão ter com ele e com ele aprendem a temer apenas o seu Deus e a viver em castidade. Tecla, a minha filha, está como uma aranha preta presa às arcadas, cativa dessa pessoa. Uma vã paixão por ele arrebatou-a, assim como um desejo destrutivo.
Ela fica ali sentada, a ouvir as palavras dele e entra em trânse de alegria.

Está perdida.
Vai ter com ela, fala-lhe, porque ela é a tua mulher.”

E Tamíris foi e quando a viu assustou-se com a graça de Deus que a tocava e com o amor extremo que sentiu por ela.
Disse-lhe Tamíris:

- “Tecla, minha prometida. Porque estás assim sentada à janela? Que desejo te possui assim?
- Olha para mim. Sou Tamíris, o teu noivo.
Tem ao menos vergonha por mim e pela tua mãe.”

Nessa altura a mãe de Tecla diz-lhe:

- “Minha filha, Tecla, encara o teu noivo. O que é que se passa contigo? Estás aí, de olhar perdido no chão. Não nos respondes de todo, antes pelo contrário, continuas aí sentada e o teu coração já cá não está."

Na casa de Tecla estavam outras pessoas que também se perguntavam:

- “O que é que se está a passar entre nós?”
- “Esta tristeza vem da recusa de Tecla em casar-se com o seu noivo.

Theocleia, o noivo e todos os servos estavam muito tristes. Tudo porque Tecla não queria casar com Tamíris.”

Uma enorme tristeza desceu assim sobre aquela casa, ainda por cima quando Tecla continuou sem os olhar ou responder, antes permaneceu colada à arcada, ouvindo Paulo com um inconcebível desejo.

E todos choraram amargamente. Tamíris porque perdera a mulher, Theocleia, a sua filha e os jovens escravos, a sua protectora..

Quando o noivo percebeu que Tecla não se voltaria para ele, saíu para a rua, onde ficou a observar os que entravam e saiam do lugar onde Paulo continuava a falar.

Reparou então em dois homens que discutiam entre si, a quem se dirigiu dizendo-lhes:

- “Quem são vocês e quem é esse sedutor com quem acabaste de estar.?
- Quem é esse que corrompe a alma dos jovens e das virgens, de forma a que não queiram casar e passem a querer manter-se tal como estão?
- Prometo compensar-vos generosamente se me falarem desse homem, porque sou dos primeiros desta cidade.”

Demas e Hermogenes ter-lhão respondido:

- “Quem ele seja não sabemos, sabemos sim que ele separa os jovens das mulheres e os homens das virgens, dizendo-lhes: ‹‹Não poderá haver ressurreição sem castidade; em vez de contaminarem a vossa carne deveis mantê-la pura.››.

Tamíris ter-lhes-à dito então:

- “Venham a minha casa e descansai comigo”.

Entraram então em casa de Tamíris que lhes preparou um sumptuoso jantar, para ser servido na mesa brilhante. Trouxe então o melhor vinho e fê-los beber, na esperança de ouvir deles o modo como poderia recuperar a sua amada Tecla. Disse-lhes Tamíris durante a refeição:

- “Expliquem-me a sua doutrina, de forma a que também eu a possa conhecer.
O meu sofrimento é grande porque Tecla ama mais as palavras desse estrangeiro que me ama a mim, privando-me do casamento e transformando-me num estranho para minha própria mulher.”

Disseram então a Tamíris, Demas e Hermogenes, a uma só voz:

- “Mas porque é que estás triste? Leva-o ao Governador Cestilius e denuncia-o como sedutor de multidões com essas ideias novas dos cristãos! Desta forma ele será destruído e tu terás Tecla como tua mulher. Quanto a nós, vamos-te ensinar o que é a ressurreição que ele diz que há de vir, que aconteceu já nos filhos que temos e que em nós acontecerá quando reconhecermos o verdadeiro Deus”.

Ao ouvi-los falar assim Tamíris ficou possuído de ciúme e cólera.

Ao raiar da aurora dirigiu-se a casa de Onesiphorus, acompanhado de magistrados, oficiais e de uma turba de gente, armada com paus e espadas.

Quando chegaram a casa de Onesiphorus, Tamíris colérico, vendo Paulo disse-lhe:

- “Tu seduziste a nossa cidade de Icónio, corrompeste o coração da minha noiva, de tal forma que ela já não quer casar comigo. Vamos levar-te ao Governados Cestilius para que ele fique a saber o que andas aqui a fazer.”

A multidão uniu-se a Tamíris e numa só voz clamou:
- “Levem o bruxo, porque ele seduziu todas as mulheres da cidade.” Levaram Paulo à presença do Governador, perante quem Tamíris vociferou:

- “Próconsul, nós não sabemos de onde vem este homem que impede as jovens raparigas de casarem, tornando as virgens celibatárias. Pergunta-lhe de onde é que vem e porque veio aqui ensinar o que anda a ensinar”.

Acrescentaram Demas e Hermogenes:
- “ Ele é um cristão, pelo que o podes condenar já.”
O Governador, porém, ateve-se ao pedido por Tamíris e perguntou a Paulo:

- “Quem és tu? O que é que andas a ensinar? Não é ligeira a acusação que apresentam contra ti.”

Paulo, elevando a sua voz respondeu:

- “Já que me perguntas sobre o que ensino, então ouve Governador:

- “O Deus vivo, o Deus dos castigos, o Deus possessivo, o Deus que se basta a si próprio, desejando a salvação dos homens, enviou-me para os tirar da perdição e da impureza, de toda a volúpia e da morte, de forma a que deixem de pecar.
- Deus também enviou o seu próprio filho; é este Deus que eu anuncio; eu ensino os homens a confiarem-lhe as suas esperanças; só Ele teve piedade deste mundo que vive erro, de forma a que os homens não fiquem mais sujeitos à condenação no julgamento final, mas, ao invés, alcancem a fé e a crença de Deus. Ensino-lhes a reconhecerem a santidade e a amar a verdade.

- Se o que lhes ensino é o que me foi revelado por Deus, em que é que eu pequei Governador?”

Perante estas palavras o Governador mandou acorrentar Paulo e conduzi-lo à prisão, onde deveria permanecer até que ele, Governador, o pudesse ouvir mais aprofundadamente.

Nessa noite, Tecla levantou-se, retirou a bracelete do seu antebraço e ofereceu-a ao porteiro do pátio da prisão, que assim lhe abriu a porta de entrada.
Dirigiu-se de seguida à prisão e ofereceu um espelho de prata ao carcereiro que deixou-a passar seguindo Tecla até à cela onde se encontrava Paulo.

Aí chegada, Tecla caíu aos pés de Paulo e aí permaneceu sentada ouvindo a palavra de Deus, começando a beijar as suas mãos e os seus pés.

Entretanto Tecla era procurada pelos da sua casa e pelo seu noivo Tamíris.
Crendo-a perdida, corriam as ruas atrás no seu encalço, quando um escravo, colega do porteiro, lhes disse que Tecla tinha saído durante a noite em direcção à prisão.
Foram então ter com o Porteiro da prisão que lhes disse ter Tecla ido encontrar-se com o estrangeiro, na sua cela. Seguindo a sua indicação foram encontrá-la como que acorrentada pelo amor.

Saíram da prisão e reuniram uma multidão que os acompanhou até ao governador a quem relataram o que tinha acontecido.

O Governador ordenou que fossem buscar Paulo e o apresentassem o Tribunal.

Tecla continuava enrolada em si mesma, no mesmo lugar onde estava Paulo, que ali, sentado no cárcere, a havia instruído. O governador ordenou que a trouxessem também ao Tribunal.

Tecla, cheia de alegria, partiu feliz. Nessa altura a multidão, ao ver Paulo, de novo gritou, ainda com mais violência:

“É um feiticeiro! Matem-no!”

No entanto, o governador escutava com prazer a descrição que Paulo lhe fazia das suas obras santas, após o que – e depois de reunir o conselho - mandou chamar Tecla e perguntou-lhe:

- “Porque é que não te casas com Tamíris, seguindo a lei do povo de Icónio?

Tecla continuava fixada em Paulo e naquele seu estado de deleite nada respondeu. Perante isto a sua mãe clamou no seu grito chorado:

- “Queimem essa perversa; queimem essa inimiga do casamento no meio da arena, de forma a que todas as mulheres que tenham sido instruídas por este homem fiquem apavoradas e aprendam a lição.”

O governador, em evidente sofrimento, ordenou que Paulo fosse flagelado e expulso da cidade, condenando Tecla à fogueira. Após o que se levantou, dirigindo-se com a multidão para a arena, onde todos iriam contemplar a execução da sentença.

Tecla - como um cordeiro no deserto que olha para todos os lados à procura do seu pastor - procurava Paulo entre a multidão. Enquanto deslizava o seu olhar pela ela viu o Senhor sentado, à semelhança de Paulo e disse para si mesma:

- “Como se eu pudesse fraquejar, Paulo veio assistir.”

Fixava-o absorta no seu devaneio, quando o viu subir ao céu.

Entretanto, rapazes e raparigas tinham trazido lenha e palha para queimar Tecla. Quando trouxeram Tecla, nua, o governador chorava, admirando a beleza da força que irradiava nela.

Os funcionários acabaram com a compaixão, atearam o fogo e levaram-na para o topo da pira. Tecla benzeu-se e entrou no fogo. As chamas subiam altas sem que lhe tocassem.

Deus que é bom, comovido, fez soar um trovão subterrâneo e do alto dos céus surgiu uma nuvem carregada de chuva e granizo que inundou toda a arena que ficou mergulhada nas trevas.
Muitos correram perigo de vida, outros morreram, porém, o fogo foi extinto e Tecla salva.

Enquanto se produziam estes acontecimentos Paulo, amarelecido, abrigara-se, juntamente com Onesiphorus, seus filhos e mulher num sepulcro aberto, situado na estrada que liga Icónio a Dafne. Aí permaneceram durante três dias e três noites, em jejum e oração. Na terceira noite as crianças disseram a Paulo:

- “Temos fome”.

Ora, não tendo como comprar pão - porque Onesiphorus abandonara toda a sua fortuna e bens para seguir Paulo, este tirou o seu manto e disse-lhes:

- “Vai, meu filho e vende este manto, compra-nos pão e volta para o repartires com os teus irmãos”.

Quando ia comprar o pão o rapaz viu Tecla, a sua vizinha.

Estupefacto exclamou:

- “Oh Tecla, minha querida, tu estás viva!!! Onde é que vais?

Tecla respondeu-lhe:

- Estou à procura de Paulo, o apóstolo, porque Deus salvou-me do fogo.

Respondeu-lhe então o rapaz:

- “Vem comigo, eu levo-te até Paulo porque ele chora por ti, reza e jejua há três dias, pedindo a Deus que te salve”.

Chegados à tumba Paulo estava dobrado sobre os seus joelhos , rezava e dizia: “ Pai de Cristo, faz com que o fogo não toque em Tecla e avai em seu auxílio porque ela é só tua.”.

Tecla, que estava em pé imediatamente atrás de Paulo, exclamou:

- “Pai, que fizeste o céu e a terra, Pai do teu filho bem amado Jesus Cristo, eu te glorifico por me teres salvo do fogo e assim poder voltar a ver Paulo.”

E Paulo, que ao ouvi-la levantara-se, vendo-a disse:

- “Deus que conheces os corações, Pai Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te glorifico por teres executado tão depressa o meu pedido e por me teres escutado.”

Reinava então no interior da tumba uma alegria afectuosa, Paulo, Onésiphprus e todos se regozijavam por Tecla ter sobrevivido.

Tinham cinco pães. Legumes e água, estavam todos encantados com as obras Santas de Cristo. Comeram e beberam então de acordo com a capacidade de cada um.

Tecla disse então a Paulo:

- “Quero que me cortes o cabelo e que me permitas seguir-te para qualquer parte onde vás proclamar as novas do Senhor.”

Paulo respondeu-lhe assim:

- “Vivemos tempos demoníacos e tu és uma mulher linda. Temo que mais males recaiam sobre ti, maiores ainda do que aqueles que já te aconteceram. Temo que tu não os consigas suportar e que venhas a perder a graça divina.

Respondeu Tecla:

- “Dá-me apenas o selo de Cristo e acredito que Deus não decepcionará a minha confiança nele e que o inimigo não conseguirá obter vitória sobre mim.

Disse-lhe Paulo.
- “Sê paciente e receberás a água.”

Decidiu então Paulo mandar Onesiphorus a Icónio, enquanto que ele e Tecla seguiriam para a cidade de Antioquia.

Uma vez chegados a Antioquia, um Sírio de nome Alexandre, um dos primeiros da cidade, ao ver Tecla cobiçou-a imediatamente e para tê-la para si procurou Paulo oferendo-lhe em troca de Tecla presentes e dinheiro.

Paulo respondeu-lhe:
- “Não conheço a mulher de que me falas, ela não me pertence.”

Então, Alexandre, que era poderoso, agarrou Tecla na rua, que não suportou o abuso e disse-lhe alto e bom som:

- “Não sejas violento com o estrangeiro, não sejas violento comigo. Eu estou entre as primeiras de Icónio e foi porque não quis casar com Tamíris que foi expulsa da cidade.”

Desembaraçou-se de Alexandre, rasgou-lhe a túnica, mandou ao chão a coroa que este trazia na cabeça e chamou-lhe todos os nomes.

Ao ver-se publicamente humilhado por Tecla, Alexandre deteve-a e levou-a ao governador a quem apresentou queixa por tudo quanto esta lhe fizera.

Perguntou-lhe então o governador:
- “É verdade que fizeste tudo isto que acaba de ser relatado por Alexandre?”

Tecla confessou que o fizera, sem negar qualquer um dos factos de que a acusava Alexandre.

Ordenou então o Governador que Tecla fosse lançada às feras.

Quis então Alexandre oferecer um banquete à cidade, no dia da execução. O povo de Antioquia, porém estava chocado com o obscuro julgamento que o governador acabara de realizar.

Pediu Tecla ao governador que lhe permitisse manter-se pura, ante os olhos de todos, até que a lançassem às feras.
Entre os que estavam presentes encontrava-se uma das mulheres mais poderosas e ricas de Antióquia: Trifena.

Trifena, que tivera uma filha, de nome Falconia, que havia falecido, dirigiu-se ao governador e disse-lhe:

- “Entregue-me Tecla até que até que V. Senhoria me peça que a traga perante si.”

O Governador ordenou que entregassem Tecla a Trifena que a recebeu, partindo ambas.

Quando chegou o dia do banquete de Alexandre, foram buscar Tecla para a lançar às feras.

Tecla abençoou Trifena que chorou por ela.

Quando chegou o momento da procissão dos animais selvagens, amarraram Tecla a uma leoa feroz, porém a leoa, levando Tecla sentada no seu dorso, lambia-lhe calmamente os pés, deixando todos estupefactos.

O letreiro da “acusação” dizia “Sacrilégio.”

Clamaram então as mulheres e as crianças, fora de si, contra a sentença, dizendo:

- “Oh Deus: uma enorme injustiça vai ser cometida nesta cidade.”

Terminado o desfile Trifena voltou a acolher Tecla.

Nessa mesma noite Trifena sonhara que sua filha Falconia lhe tinha feito o seguinte pedido:

- “Mãe, tu darás o meu lugar à estrangeira abandonada, de forma a que ela reze por mim e eu passe para o lugar dos justos.”

Trifena, por sua vez, consumia-se em dor porque Tecla deveria na manhã seguinte ser lançada às feras, ao mesmo tempo que sentia por ela um amor tão grande como aquele que tinha pela sua falecida filha. Disse então a Tecla:

- “Tecla, minha segunda criança: Reza pela minha filha para que ela viva para sempre.” Tecla, sem demora, elevou a voz e disse:

- “ Deus dos céus, Filho do Altíssimo, concede-lhe o que ela deseja; que a sua filha Falcónia viva na eternidade.”

Ouvindo estas palavras, Trifena arrepiava-se só com a ideia de tanta beleza ser deitada às bestas.

Quando amanheceu Alexandre veio buscar Tecla – uma vez que era ele quem oferecia o circo de feras – e disse:

- “O governador já está sentado e a multidão protesta de impaciência contra nós, temos de conduzir a condenada às feras.”

Nesta altura Trifena começou a gritar de tal forma que Alexandre fugiu”:

- “É um segundo luto pela minha Falconia que desce agora sobre a minha casa. Não tenho ninguém que me possa acudir, nem criança, porque ela morreu, nem parentes, oprque sou viúva. Deus de Tecla, meu menino, acodi a Tecla.”

Enviou então o governador os soldados, para que fossem buscar Tecla. Ainda assim Trifena não a largava, segurava-lhe na mão ia dizendo:

- “Eu conduzi ao túmulo a minha filha Falcónia, que está sepultada sob a minha casa, a ti, Tecla, eu conduzo à luta contra as bestas”.

Tecla, comovida com a dor de Trifena, chorava amargamente e gemia ao Senhor:

- “Senhor Deus em quem eu creio e sobre quem me refugiei, tu que me arrebataste do fogo, recompensa Trifena pela piedade que tem desta tua serva e por me ter guardado pura.

Enquanto Tecla rezava por Trifena, ouvia-se o tumulto da multidão e os rugidos das feras; o povo e as mulheres, todos reunidos e sentados gritavam. O povo:

- “Tragam a sacrílega.” As mulheres:

- “Que a nossa cidade seja destruída por esta injustiça! Mate-nos a todos, procônsul! Espectáculo atroz! Sentença criminosa!”

Retiraram então Tecla das mãos de Trifena e despiram-na, vestindo-lhe apenas uma saia curta e fazendo-a entrar assim na arena: os leões e os ursos foram soltos e lançados contra ela.

Nessa altura uma leoa feroz deitou-se aos pés de Tecla; a multidão das mulheres, ao vê- lo, gritou ainda mais. Uma ursa veio atacar Tecla, a leoa correu na sua direcção e atacou- a , rasgandoa-a. Por sua vez um leão, treinado para atacar os homens e pertencente a Alexandre também se lançou contra Tecla, mas a leoa também foi no seu encaço e lutou com o leão, até morrerem ambos. A dor e o gritar das mulheres aumentou então, ao ver morrer a leoa que defendia Tecla.

Soltaram então um grande número de feras, enquanto ela estava de pé, enquanto ela estendia os braços e rezava. Quando Tecla terminou de orar voltou-se, viu uma grande fossa, cheia de água, e disse:

- “Chegou o momento de receber a água.”


Dirigiu-se à fossa de água dizendo:


- “Em nome de Jesus Cristo eu me baptizo neste meu último dia.” 

 

Perante este espectáculo as mulheres e a multidão gritavam-lhe:


- “Não te atires à água.”

O próprio governador já chorava, sabendo que em breve as focas assassinas iriam devorar tanta beleza. Tecla, porém, já se tinha atirado à agua. Foi então que as focas viram o enorme clarão provocado pela chama de um enorme relâmpago e flutuaram, mortas. Um anel de fogo formou uma nuvem à volta de Tecla, de forma a que as feras não lhe tocassem e que a sua nudez fosse encoberta.

Porque as restantes feras, as mais ferozes, também pareciam desinteressadas de Tecla, as mulheres soltavam gritos agudos enquanto umas lançavam à arena plantas aromatizadas, outras essência de nardo, outras ramos de acácias amarelas, outras gengibre, de tal maneira que ali se formou uma fusão de perfumes. Todos os animais que vagueavam na arena, como se toldados pelo sono, ignoravam Tecla.

Foi então que Alexandre disse ao governador:
- “Ei tenho uns touros extremamente ferozes, atemos a eles a condenada.”. Com uma expressão sombria o governados murmourou.
- “ Faz o que quiseres.”

Prendeream então Tecla pelos pés entre os dois touros em cujas partesaplicaram ferros em brase, de sorte que se tornassem ainda mais furiosos e a matassem. Na verdade, eles dispararam raivosos, mas a chama estendeu-se, formando um círculo à volta de Tecla, queimando as cordas, tudo se passando como se Tecla não tivesse sido atada.

Nesta altura Trifena desmaiou numa porta próxima da arena. Os seus escravos começaram então a gritar:

- “ A rainha Trifena morreu.”
O governador acabou o espectáculo, mergulhando a cidade numa enorme angústia. Alexandre, prostrando-se aos pés do governador, disse-lhe:

- “Tem piedade de mim e da cidade; liberta a condenada, de maneira a que a cidade não seja também destruída. O que acontecerá quando César tomar conhecimento que a sua parente, a Rei Trifena, às nossas portas morreu,”

Ordenou então o governador que lhe trouxessem Tecla, retirando-a do meio das feras. Perguntou-lhe o governador:

- “Quem és tu? O que é qe te protege de tal forma que nenhuma das feras te tocou?”

Respondeu-lhe Tecla:

- “ Sou a serva do Deus vivo, a protecção que me rodeia é a que veio por ter acreditado em quem Deus enviou a seu belo prazer, o seu Filho; é por causa dele que nem uma só besta me tocou. Efectivamente só ele é o caminho da salvação e o fundamento da vida imortal. Ele é de facto o refúgio daqueles sofrem a tempestade, o repouso dos oprimidos,

o abrigo dos desesperados, de tal forma o é – e numa palvra – que aquele que nele não acreditar, não viverá, antes morrerá para toda a eternidade.”

Ao ouvir aquelas palavras, o governador ordenou que trouxessem as roupas de Tecla e disse:

- “Volta a vestir as tuas roupas.” Ao que Tecla respondeu:

- “Aquele que me voltou a vestir quando eu estava nua no meio das bestas selvagens, é o mesmo que me revestirá de salvação no dia do julgamento final.”

Tecla recolheu as suas roupas e cobriu-se. O governador emitiu imrediatamente um decreto nos seguintes termos:

- “Eu liberto-te, Tecla, serva de Deus, a piedosa.”

Soltaram então as mulheres um grito profundo e poderoso e como se fosse uma boca, louvaram Deus, dizendo:

- “Só há um Deus, o que salvou Tecla.”
O grito foi tal que ecoou em toda a cidade.

Trifena, ao saber da boa nova, partiu ao encontro de Tecla e quando a viu no meio da multidão, abraçou-a e disse:

- “Agora, eu acredito que os mortes despertam, agora, agredito que a minha filha está viva;; vem para minha casa; vou pôr em teu nome todos os meus bens.”

Tecla foi com Trifena para casa desta e aí descansou por oito dias, durante os quais transmitiu a Trifena e a todos os seus servos, a palavra do seu Deus. Uma enorme alegria encheu então aquela casa.

Tecla, porém, desejava (rever) Paulo e fazia-o procurar por toda a parte, através de enviados por quem acabou por saber que Paulo se encontrava em Mira.
Rezou então Tecla e com ela os jovens escravos, rapazes e raparigas. Cingindo e ajustando a sua túnica à maneira dos homens, partiu então Tecla para Mira.

Aí o encontrou , pregando.
Tecla avançou para junto dele.
Vendo-a Paulo ficou estupefacto e apreensivo, ao ver que uma trupe a acompanhava temeu que uma nova provação a ameaçasse.
Tecla, percebendo a preocupação de Paulo disse-lhe:

- “Já fui Baptizada, Paulo.; aquele que te deu o poder para relevar a boa nova, deu-me o poder de me baptizar a mim própria.”

- Paulo, pegando na mão de Tecla, levou-a à casa de Hermaios, onde ouviu de Tecla tudo o que se tinha passado. Paulo e todos os ouvintes ficaram tomados de espanto, sentindo- se fortalecidos, todos rezaram por Trifena.
Tecla, levantando-se, disse a Paulo:

- “Eu vou a Icónio”.

Paulo respondeu:

- “Vai e ensina a palavra de Deus.”

Nos entretantos, Trifena tinha-lhe enviado diverso vestuário e ouro, de forma que ela o pudesse deixar a Paulo para o auxílio aos indigentes.

Tecla partiu para Icónio. Aí chegada entra na casa de Onesiphorus e deita-se no chão, no lugar onde Paulo, sentado, ensinou as máximas de Deus. Chora e diz:

- “Oh meu Deus, Deus desta casa, meu socorro na prisão, meu socorro ante os governadores, meu socorro no fogo, meu socorro entre as feras, tu és verdadeiramente Deus e é tua a glória na eternidade. Ámen.”

Ao chegar a Icónio dizem a Tecla que o seu noivo Tamíris já morreu, mas que a sua mãe está viva.

- “Téoclia, minha mãe, consegues acreditar que o Senhor vive nos céus? Desejas tu efectivamente vida eterna? O senhor dar-te-à a imopirtalidade através de mim, tua filha? Aqui me tens, ao pé de ti.”

Depois de ter dado testemunho da sua história, Tecla partiu para Selécia, iluminando muita gente através da palavra de Deus, até que adormeceu num belo sono.

Em Selécia, alguns dos seus habitantes, de culto helénico e que exerciam a arte médica, incitaram contra ela jovens debochados que a perseguiram para a matar.- Diziam eles que a virgem servia, na verdade, Artémis, sendo essa a explicação do seu poder de curar. Porém, através da providência de Deus ela escapou-lhes, entrando entrou num rochedo que se lhe abriu desaparecendo debaixo da terra.

Tecla ainda foi a Roma para ver Paulo, no entanto já o encontrou morto. Em Roma onde permaneceu pouco tempo e adormeceu num belo sono; ela está sepultada a dois ou três estádios da sepultura do seu mestre Paulo.

Ele tinha sido lançada às chamas com dezassete anos de idade; entregue às feras aos dezoito; ela praticou a virtude na caverna, como já vai dito, alimentando-se de plantas e bebendo água, durante setenta e dois anos, assim ela viviu ao todo noventa anos. Depois de ter realizado inúmeras curas ela descansa na residência dos santos, tendo adormecido a vinte e quatro do mês de Setembro, em Jesus Cristo Nosso Senhora quem pertencem a glória e o poder na eternidade. Amen.”

Detalhe de Painel dedicado a Sta. Tecla (Colecção Privada) Caminha, Agosto de 2020

Notas

Nota 1: Datas.

Na tradução do grego para francês a datação é feita com referência no actual calendário (“24 de Setembro), já na tradução do árabe para inglês surge como data a referida ao calendário árabe: vinte e cinco do mês de Abib. Para os cristãos o dia de Santa Tecla é o de 23 de Setembro, sendo que para os Ortodoxos o seu dia é o que consta da tradução francesa a partir do grego (24 de Setembro).

No dia 23 de Setembro são várias as festas que se realizam na Península Ibérica, sendo de destacar a que se realiza no Monte de Santa Trega (assim designada Tecla em Galego) e a que se realiza em Tarragona.

Nota 2: Locais

1. Icónio

Icónio, Icônio ou Cônia (em turco Konya) é uma cidade que fica na província da Turquia com o mesmo nome daquela cidade. É referida na Bíblia (Actos dos Apóstolos) a propósito de São Paulo e da sua fuga de Antioquia (o que confirma narração dos factos feita nos Actos de Paulo e Tecla). Há uma referência curiosa ao facto desta cidade ser aquela em que se fundou uma curiosa ordem de monges, a ordem dos monges rodopiantes: [Icónio é actualmente um importante lugar de peregrinação para os muçulmanos porque acolhe o túmulo do místico e poeta Mevlana, fundador da ordem dos “Dervishes Rodopiantes”, e um museu que recorda a sua herança teológica e sapiencial. – cfr . https://agencia.ecclesia.pt/portal/iconio-de-sao-paulo-aos-monges-rodopiantes. Esta corrente islâmica, fundada no século XII, acreditava que o movimento giratório do corpo permitia libertar o espírito da prisão da carne.

A trajectória rotativa, que retoma o percurso de alguns dos elementos mais importantes da natureza, como a lua, os planetas e as estrelas, contribui para o principal objectivo de vida do monge: morrer antes de morrer.

O simbolismo do branco e do negro, da música que evolui da tristeza para a alegria, e dos gestos, com uma mão apontada para o céu e a outra para a terra, são alguns dos elementos da cerimónia ritual de 45 minutos.

As quatro fases da liturgia começam por evocar o sofrimento do espírito enclausurado e culminam na festa do reencontro com o Criador.

2. Antióquia

Cidade no Sul da Turquia, actualmente denominada Antakia (ou Antáquia), considerada o berço do cristianismo, por nela se situar uma caverna que serviu de refúgio aos primeiros cristãos que fugiram de Jerusalém. Actualmente foi a cidade onde se refugiaram mais de 100.000 sírios.

3. Dafne

Seria um bairro de Antioquia onde se encontraria um importante Templo dedicado a Apolo.

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